O
Censo Escolar é um levantamento de dados estatístico-educacionais de âmbito
nacional realizado anualmente, sob a responsabilidade das escolas públicas e
privadas. Tal levantamento nos permite verificar se as informações declaradas
realmente representam a realidade do nosso município, viabilizando uma melhor
aplicabilidade e execução das políticas públicas bem como, uma maior clareza
acerca da fiscalização dos recursos públicos distribuídos aos municípios, desta
maneira, prevenindo e fortalecendo a cidadania.
Dentre
os dados estatísticos pesquisados através do censo, a variável cor/raça é a que
enfrenta maior problema. No censo escolar esta variável contém cinco
categorias: branco, preto, amarelo, pardo e indígena.
Porém,
existe no Brasil certa insatisfação, principalmente por parte do movimento
negro, com as categorias utilizadas oficialmente para medir a variável cor/
raça, em especial a categoria preto, uma vez que esse termo possui conotação
negativa e acaba impedindo muitos que são pretos de se auto-assumirem como
tais, tanto no senso aplicado IBGE quanto no censo escolar (TELLES, 2003).
O fato é que a não declaração da cor/raça ou
informações equivocadas por alunos, pais, responsável legal ou até mesmo dos
profissionais escolares a respeito desta questão pode resultar na má formulação
de políticas que tem por objetivo, diminuir as desigualdades entre os diferentes
grupos raciais. A não informação ou a informação equivocada pode estar
relacionadas às questões, tais como: questões de pertencimento, de identidade e
de reconhecimento, assim como, ter relação com a falta de compreensão da
importância da classificação racial e até mesmo pela dificuldade de
entendimento a respeito das cinco categorias, utilizadas oficialmente pelo
censo escolar em todo país.
No
decorrer deste texto, irei discorrer acerca da análise dos dados estatísticos,
desagregadas por cor/ raça, através do Censo Escolar de 2017, realizado na
Escola Municipal de Educação Infantil Professora Adelaide Fernandes de Souza,
no distrito de Arroio Teixeira, município de Capão da Canoa, mapeando a
realidade daquela comunidade escolar. O instrumento de coleta de dados
utilizado foi à ficha de matrícula, através da declaração cor/raça, que deve
ser obrigatoriamente preenchido no ato da matrícula. Constatou-se que 2% dos
responsáveis pela matrícula do educando não declararam a cor/raça da criança,
80% dos responsáveis declararam como cor/raça branca e 18% declararam como
negra. A categoria de pertencimento racial pardo, amarelo e indígena não foi
declarada por nenhum dos responsáveis no ato da matrícula. O que impressiona
mais, é que no durante a efetivação da matrícula escolar, muitos dos
responsáveis não sabiam identificar a raça, passando assim a ser consultado, na
carteira de vacinação da criança. Os dados compartilhados permitiram que
pudéssemos elencar ações de intervenção que visam o respeito à identidade
étnico-racial e de promoção a diversidade.
Mesmo
sabendo da dificuldade de classificação racial, Schwartzman nos coloca que, “o
objetivo não é tentar medir ou quantificar as características biológicas da
população, e sim sua diversidade social, cultural e histórica, que, como é
sabido, está relacionada a diferenças importantes de condição de vida, oportunidade
e eventuais problemas de discriminação e preconceito” (SCHWARTZMAN, 2004,
p.101-102).
No
intuito da promoção a diversidade, escolhi a turma de Pré II para
aplicabilidades das ações de intervenção. Nesta turma, pude constatar uma maior
disparidade étnico-racial, sendo 9% negra e 25% branca, declarada pelos pais,
mas não de fato e visivelmente verídicos. A turma é composta de 20 (vinte)
crianças com 05 (cinco) e 06 (seis) anos, faixa etária onde as crianças já
começam a conhecer o seu corpo, as diferenças e semelhanças entre os colegas do
grupo.
O
objetivo desta análise foi de tentar compreender como vem sendo realizado esta
classificação racial nos alunos de Pré II e também de elencar ações que dizem
respeito à construção gradativa da identidade de cada criança, considerando que
o conhecimento dela faz parte da idéia de distinção, de uma “marca” de
diferença entre as pessoas. Refiro-me a construção pessoal de cada indivíduo,
sem distinção ou preconceitos, a começar pelo nome, seguido de todas as
características físicas, do modo de agir, pensar e da história de cada um.
A
Lei nº 10.639/2003, que cria as diretrizes Curriculares para a inclusão da
história e cultura Afro- Brasileira e Africana, já nos sobre a necessidade de
ações “educativas voltada para a formação étnico-racial, tornando-se parceiros
de uma nova cultura, da cultura anti-racista, do fortalecimento da dignidade da
promoção da igualdade real dos direitos” (BRASIL, 2003). Diretrizes
Curriculares para inclusão da história e cultura Afro- Brasileira e Africana-
lei nº 10.639/03).
Segundo
Trinidad (2011), “as crianças em idade pré-escolares, fazem uso do preconceito
e da discriminação por meio do plano verbal, e à medida que vão adquirindo mais
idade, tendem a transformá-los em atitude, portanto valorando os vocábulos
raciais diferentemente” (p.132).
Nesta
perspectiva, pensei em algumas ações, a fim de promover o respeito à identidade
racial de cada um. Dentre as ações realizadas podemos destacar a realização de
pesquisas junto à comunidade de escolar através da ficha de matrícula do
educando, observação de fotos das crianças e suas famílias, construção de (re) contos
tendo como mediador o professor, musicalidade, a construção de instrumentos
musicais com material de sucata valorizando a diversidade cultural, conto
menina bonita do laço de fita, palestras entre outras ações.
Eliane
Cavalheiro (2003) vem nos confirmar a importância de tais ações, dizendo que
“não se pode deixar por conta de um silêncio criminoso crianças sofrendo
diariamente situações que as empurram e as mantêm em permanente estado de
exclusão da vida social” (p. 23).
Através
da aplicação destas ações, foi possível averiguar a falta de informação das
crianças e dos pais. Não há como negar, que o mito da democracia ainda faz
parte dos discursos, que estamos acostumados a escutar- “todos somos iguais”!
Isto implica não falar sobre assuntos relacionados à cor e raça. O fato é que
somos diferentes e que desde a infância devemos possibilitar este olhar para
criança, somos diferentes, porém devemos ser tratamos com igualdade.
O
censo escolar, importante ferramenta estatísticas no abre horizontes para que
dentro da escola se inicie esta quebra de conceitos estagnados, a quebra dos
pré-conceitos.
Contudo,
falar sobre raça e cor, é uma questão infinita, complexa, mal resolvida
(observado os censos escolares anteriores) e, sobretudo polêmica. Portanto,
essa reflexão é um dos olhares que pode ser lançado na realidade da comunidade
escolar de Arroio Teixeira, o que me permite dizer que os resultados obtidos
através das ações propostas devem ser refletidos e analisados diariamente através
da mudança de postura e atitudes e não serem concluídos de imediato, definindo
e criando novos pré-conceitos.
REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS
BRASIL.
Planalto. Lei nº 10.639, de 09 de janeiro de 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/110.639.htm.
Acesso em 16/01/2018.
CAVALLEIRO,
Eliane dos Santos. Do silencio do lar ao
silêncio escolar: racismo, preconceito e discriminação na Educação
Infantil. São Paulo: Editora: Contexto, 2003.
SCHWARTZMAN,
Simon. As Causas da Pobreza. Rio de
Janeiro: Editora: FGV, 2004.
TELLES,
Edward. Racismo à Brasileira: uma
Nova Perspectiva Sociológica. Rio de Janeiro: Fundação Ford, 2003.
TRINIDAD,
Cristina Teodoro. Identificação étnico-
racial na voz de crianças em espaços de educação infantil. PUC. 2011.
Disponível em: https://sapientia.pucsp.br/bitstream/handle/15994/.../Cristina%20Teodoro%20Trinidad. Acesso em: 16/01/2018.
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